Myrian Cardoso Loula Diniz
Atuando no cuidado de pessoas em tratamento de saúde, uma das questões mais pontuais a ser observada é como tornar este processo tão traumático algo mais suavizado por ações mais humanas. Não é raro ouvir ou presenciar situações muito tensas entre profissionais de saúde e pacientes e/ou familiares. Essas situações podem ser caracterizadas claramente por uma notória falta de humanização.
“Humanização”, esse é uma palavra que requer maior consideração no âmbito das relações interpessoais. Mesmo que nossas relações se deem entre indivíduos humanos, isso não significa necessariamente que estas relações sejam por si só e intrinsicamente plenas de humanização. Ás vezes, essas relações estão esvaziadas do que o conceito significa.
O termo “humanização” refere-se à ação ou efeito de tornar algo humano ou mais humano, incluindo a promoção de benevolência e afabilidade. Esse processo de humanização pode manifestar-se em diversas áreas, como Ciências da Saúde, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Exatas, entre outras. Sempre que ocorre, a humanização cria condições mais propícias e compassivas para os colaboradores de uma empresa ou usuários de um serviço ou sistema.
A humanização implica na evolução do ser humano, à medida que busca aprimorar suas habilidades por meio da interação com o ambiente ao seu redor. Para cumprir essa tarefa, as pessoas utilizam recursos e instrumentos como auxílio, sendo a comunicação uma ferramenta de grande importância nesse processo.
No campo das ciências da saúde, a humanização é de fundamental importância, pois envolve uma transformação na gestão dos sistemas de saúde e de seus serviços, impactando a interação entre usuários e profissionais da saúde. Um dos principais propósitos da humanização nesse contexto é proporcionar um atendimento mais eficaz aos beneficiários e criar condições mais favoráveis para os trabalhadores da área. Além disso, humanizar a saúde implica em promover mudanças positivas nas mentalidades individuais, resultando na formação de profissionais mais qualificados que contribuem para a melhoria do sistema de saúde.
A humanização no cuidado em ambiente hospitalar é um tema de extrema relevância na área da saúde, especialmente quando analisado sob a ótica da relação entre enfermeiro e paciente. Em um contexto em que a tecnologia avança rapidamente e as demandas por eficiência são constantes, é fundamental resgatar a importância do elemento humano nesse cenário.
O presente artigo destina-se a considerar a importância que a humanização ocupa no ambiente hospitalar e destacar o papel crucial do enfermeiro na promoção de uma relação mais próxima e acolhedora com o paciente.
A Humanização no Contexto Hospitalar
Torna-se imprescindível implementar medidas para aprimorar a relação entre profissionais de saúde e pacientes. No Brasil, essa abordagem vem sendo proposta desde 2003 por meio do plano nacional de humanização[1]. O conceito de humanização abrange a valorização das relações entre todos os participantes no ambiente de saúde, incluindo médicos, gestores hospitalares, enfermeiros, zeladores e, principalmente, os pacientes e seus familiares.
Portanto, é crucial que os profissionais que atuam em ambientes hospitalares ofereçam um atendimento humanizado, considerando o indivíduo em todas as suas dimensões, para além de suas necessidades de saúde. Isso destaca a importância de todos os envolvidos - gestores, médicos, demais profissionais e usuários - se comprometerem e buscarem a humanização do sistema de saúde. Dessa forma, será possível fortalecer coletivamente o atendimento hospitalar, alcançando uma verdadeira humanização hospitalar. A humanização é um termo e um conceito fundamentais para aprimorar a qualidade do sistema de saúde.
A humanização no cuidado de saúde refere-se a uma abordagem que reconhece o paciente como um ser integral, levando em consideração não apenas sua condição clínica, mas também suas emoções, sentimentos e singularidades. No ambiente hospitalar, muitas vezes caracterizado por procedimentos médicos invasivos, urgências e altos níveis de estresse, a humanização torna-se um desafio, mas também uma necessidade. A humanização não é apenas um conceito abstrato; ela se manifesta em práticas concretas que visam estabelecer uma relação mais empática entre profissionais de saúde e pacientes[2].
O Papel do Enfermeiro na Humanização do Cuidado
Nesse contexto, o enfermeiro desempenha um papel central, atuando como um elo entre as demandas clínicas e as necessidades emocionais do paciente. A humanização na enfermagem representa um processo essencial para os profissionais que mantêm contato direto com os pacientes, uma vez que os enfermeiros devem ser capazes de compreender de maneira precisa os sentimentos, perspectivas, dúvidas e percepções relacionados aos pacientes.
Contudo, muitos enfermeiros enfrentam desafios ao proporcionar um atendimento humanizado, devido à sobrecarga nas unidades de saúde e à frustração decorrente da falta de materiais hospitalares adequados para procedimentos básicos, como gaze, algodão e solução salina. O enfermeiro, por sua proximidade constante com o paciente, tem um papel fundamental na promoção da humanização no ambiente hospitalar. Para isso, é necessário que o profissional desenvolva habilidades interpessoais, como empatia, escuta ativa e comunicação eficaz. A compreensão das particularidades de cada paciente, suas preocupações e expectativas, contribui para um ambiente mais acolhedor.[3]
Além disso, o enfermeiro deve ser capaz de articular a complexidade técnica da assistência à saúde com a necessidade de proporcionar cuidados que respeitem a dignidade e a autonomia do paciente. A humanização, portanto, não se limita a gestos de carinho, mas também envolve a promoção do respeito aos direitos do indivíduo e a sua participação ativa no processo de cuidado.
Nesse contexto, é responsabilidade do enfermeiro compreender todas as preocupações do paciente e agir de maneira gentil e acolhedora. Essa abordagem visa aliviar o sofrimento, aprimorar a percepção dos problemas ou oferecer maior conforto diante da situação enfrentada.
Em muitos casos, mesmo pequenos gestos podem ter um significado expressivo para o paciente. Além disso, a humanização na enfermagem inclui a habilidade de interpretar a linguagem não verbal, observando os gestos que indicam comunicação indireta e expressam emoções.
Dessa forma, a base da humanização na enfermagem é proporcionar assistência integral ao indivíduo que enfrenta uma condição clínica, considerando fatores psicológicos, sociais, religiosos, financeiros e outras variáveis que influenciam o prognóstico do paciente.
Estratégias para a Humanização no Cuidado
Diversas estratégias podem ser adotadas para promover a humanização no cuidado enfermeiro-paciente. Programas de capacitação e treinamento que visam o desenvolvimento de habilidades interpessoais são essenciais. Além disso, a criação de espaços nos quais a comunicação entre enfermeiro e paciente seja encorajada, e o tempo para escuta seja valorizado, contribui para uma relação mais humanizada[4].
A incorporação de práticas centradas no paciente, como a individualização do plano de cuidados, respeitando suas preferências e valores, também é uma estratégia eficaz. O uso de tecnologias de informação pode ser aliado nesse processo, facilitando o acesso do paciente às informações sobre seu tratamento e promovendo a transparência.
Na prática, implementar a humanização na enfermagem não demanda investimentos significativos, mas sim um processo contínuo de aprendizado, capacitação e compreensão do perfil dos pacientes atendidos nos diversos níveis de atenção à saúde, como postos de saúde, ambulatórios e hospitais. É reconhecido que o enfermeiro desempenha um papel fundamental nesse contexto, pois mantém contato com diversos profissionais clínicos, proporcionando uma visão abrangente da situação. Essa perspectiva mais global confere importantes vantagens à atuação do enfermeiro nesse cenário.
O cuidado humanizado prestado pela enfermagem representa uma das habilidades do enfermeiro e deve constituir um aspecto distintivo em sua trajetória profissional. Ademais, essa abordagem de cuidado proporciona vantagens significativas para todas as partes envolvidas. Um enfermeiro que valoriza a humanização no contato com os pacientes já deve ter observado uma notável melhoria na resposta ao tratamento. Isso ocorre porque o paciente pode compartilhar suas preocupações, temores e dúvidas, e, nesse cenário, um enfermeiro qualificado pode intervir em todas as fases do processo de saúde e doença, resultando em aprimoramentos no estado clínico do paciente.
Nesse contexto, vários estudos já evidenciaram a eficácia do tratamento quando submetido ao processo de humanização e às práticas mais apropriadas tanto do ponto de vista clínico quanto socioeconômico. Quando um profissional de saúde realiza um procedimento de enfermagem de maneira adequada e profissional para uma pessoa que se encontra fragilizada fisicamente e/ou emocionalmente, é evidente uma maior colaboração e gratidão tanto por parte do paciente quanto de seu acompanhante.
Nesse contexto, é essencial que o enfermeiro forneça orientações claras e objetivas, alertando, inclusive, sobre possíveis desconfortos durante os procedimentos, a fim de evitar frustrações nas expectativas. A ênfase na humanização é um ponto destacado na trajetória do profissional de enfermagem, proporcionando maior serenidade aos pacientes diante de questões clínicas, possibilitando assim um tratamento mais eficaz. Isso implica que, mesmo em situações clínicas desafiadoras, é crucial que o enfermeiro demonstre empatia em relação aos sentimentos dos pacientes e seja compreensivo diante de determinados comportamentos apresentados.
Nesse cenário, espera-se que o enfermeiro, desempenhando o papel de articulador nesse processo, seja capaz de transmitir confiança aos pacientes e seus familiares por meio de orientações claras e objetivas. Simultaneamente, esse profissional deve possuir segurança e conhecimento para colaborar efetivamente com os demais profissionais de saúde, visando proporcionar o tratamento mais adequado ao paciente.
A humanização na prática enfermagem implica em considerar todas as variáveis que possam influenciar no prognóstico do paciente, abrangendo aspectos clínicos, sociais, psicológicos, financeiros, psiquiátricos, religiosos, entre outros. O comprometimento profissional do enfermeiro deve transcender, sendo necessário compreender essas diversas variáveis, superar possíveis preconceitos dos pacientes e oferecer uma assistência clínica que contemple integralmente o quadro do paciente.
A abordagem humanizada no tratamento de um paciente não só representa uma vantagem para o indivíduo que recebe a assistência, mas também para o profissional que consegue identificar aspectos que podem passar despercebidos quando o foco está exclusivamente na doença. Essa habilidade perceptiva pode ser considerada uma característica essencial para os enfermeiros, destacando-os positivamente em comparação com outros profissionais que têm contato direto com o paciente e servindo como um exemplo a ser seguido.
A humanização na prática enfermagem é um processo indispensável e relevante no âmbito da saúde do paciente. Através de atitudes acolhedoras e eficazes, os enfermeiros conseguem compreender as principais queixas, tanto físicas quanto emocionais, e realizam intervenções considerando todas as variáveis relacionadas à eficácia do tratamento. Entretanto, para desempenhar efetivamente esse processo, é necessário investir em capacitação contínua e adquirir experiência ao longo da trajetória profissional.
Desafios e Barreiras para a Humanização
Apesar da importância da humanização no cuidado, diversos desafios e barreiras podem surgir no ambiente hospitalar. A sobrecarga de trabalho, a falta de tempo, a burocracia e a ênfase excessiva em aspectos técnicos podem dificultar a implementação efetiva de práticas humanizadas.
Além disso, é necessário enfrentar preconceitos e estigmas que possam existir no ambiente de saúde, pois a humanização pressupõe uma abordagem inclusiva, que respeite a diversidade de pacientes. A conscientização de toda a equipe de saúde sobre a importância da humanização e a criação de políticas institucionais que a incentivem são passos cruciais nesse processo.
A humanização no cuidado, na perspectiva enfermeiro-paciente em um ambiente hospitalar, é um elemento-chave para a promoção de uma assistência à saúde mais integral e compassiva. O enfermeiro desempenha um papel central nesse processo, atuando como agente facilitador de uma relação mais próxima e empática. Embora desafios existam, a implementação de estratégias concretas, como o desenvolvimento de habilidades interpessoais e a criação de espaços propícios para a comunicação, pode contribuir significativamente para superar as barreiras. A humanização no cuidado não é apenas um conceito ideal; é uma necessidade urgente para garantir que a assistência à saúde seja verdadeiramente centrada no ser humano.
Referências
- Brasil, Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Brasília: Ministério da Saúde. 2003 [acessado 2023 Dez 30] Disponívelem:https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_humanizacao_pnh_folheto.pdf
- Morsch, JÁ. Como Adequar o Atendimento com mais Humanização na Enfermagem. Morsch Telemedicina [blog na internet] 2020 nov 6 [acessado 2023 Dez 30]. Disponível em: https://telemedicinamorsch.com.br/blog/humanizacao-na-enfermagem.
- Instituto de Desenvolvimento Educacional (Faculdade IDE) Humanização na Enfermagem: o que é e qual a sua importância? Aracaju. [Blog na internet] 2024 Fev 4 [acessado 2024 Mar 29]. Disponível em: https://blog.faculdadepm.edu.br/humanizacao-na-enfermagem
Myrian Cardoso Loula Diniz
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