A trajetória de Flávia Oliveira, de 43 anos, revela um drama que mistura mistério, luta por identidade e, agora, intimidação. Adotada de forma irregular em Belo Horizonte nos anos 1980 — prática conhecida como “adoção à brasileira” — Flávia só descobriu sua condição aos 10 anos, de forma brusca, por meio de uma prima.
O silêncio em casa sempre foi regra. Sua mãe adotiva, impossibilitada de engravidar devido ao diabetes tipo 1, nunca permitiu conversas sobre o assunto. Com a morte dela, quando Flávia tinha apenas 14 anos, surgiram as primeiras brechas para questionar a própria origem. Mas a versão apresentada pelo pai adotivo e por uma tia sempre se repetia: uma jovem do interior teria engravidado em Belo Horizonte e, rejeitada pela família, entregou o bebê.
Décadas depois, já mãe de três filhos, a inquietação cresceu. Ao perceber que os traços de suas crianças não correspondiam aos seus, Flávia decidiu recorrer à tecnologia. Realizou testes de DNA nas plataformas MyHeritage e Genera, e os resultados contrariaram toda a narrativa que ouvira durante a vida.
Do lado paterno, surgiram parentes de terceiro grau em Piumhi e Formiga, ligando sua origem à família Almeida, tradicional da região. Do lado materno, o elo veio com uma prima de primeiro e/ou segundo grau residente no Rio de Janeiro, da família Antunes, com raízes em Contagem e Belo Horizonte.
A investigação pessoal ganhou contornos mais complexos quando Flávia identificou possíveis conexões entre sua família adotiva e uma das mulheres suspeitas de ser sua mãe biológica. Cautelosa, enviou apenas uma carta respeitosa. A resposta, no entanto, foi de intimidação: em 23 de agosto, recebeu uma ligação ameaçadora de uma mulher que se apresentou como advogada e policial, advertindo que, caso insistisse em buscar informações, teria “problemas”.
Temendo pela segurança de seus três filhos e pela própria integridade, Flávia registrou um boletim de ocorrência.
“Buscar minhas origens não é crime, é um direito humano. Não procuro pais, procuro a minha história”, afirma.
O caso levanta suspeitas sobre irregularidades na adoção e até possíveis práticas ilícitas, como tráfico de bebês ou falsificação de registros, comuns em décadas passadas. Agora, Flávia exige respostas e proteção para continuar sua busca, transformando sua dor em denúncia pública.
“Nunca imaginei que meus rastros estivessem em Piumhi”, desabafa.
“Entre o medo e a esperança, Flávia segue determinada: descobrir suas raízes deixou de ser apenas uma busca pessoal e se tornou uma luta por verdade e justiça.
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